Povos pantaneiros

Como parte da Bacia do Alto Paraguai (BAP), a planície pantaneira cobre uma área de quase 210 mil km2 que é compartilhada pelo Brasil (140 mil km2 nos Estados do MT e Mato Grosso do Sul), pelo Paraguai e pela Bolívia (70 mil km2). É, portanto, um ecossistema variado (florestas, cerrados, rios, corixos, baías e lagoas) que traz uma rica vegetação, com enormes concentrações faunísticas, principalmente de aves, de répteis e de peixes. O Pantanal não é uniforme e em toda a sua extensão é possível identificar 12 sub?regiões, as quais dependem do solo, da vegetação, do relevo e do regime hidrológico.

O Parque Nacional do Pantanal Matogrossense é um espaço geográfico, considerado um dos maiores ambientes aquáticos do planeta, e sua importância tem sido reconhecida nacional e internacionalmente. Foi decretado patrimônio nacional pela Constituição de 1988 e, no ano 2000, foi reconhecido como reserva da biosfera e patrimônio da humanidade pela Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura (UNESCO). Além disso, o Parque Nacional do Pantanal Matogrossense e, mais recentemente, a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Estância Ecológica SESC Pantanal receberam o título de Sítios Ramsar.

Seguindo os fluxos das águas, o Pantanal é um espaço em constante movimento, tendo sua paisagem alterada entre épocas de seca e de cheia. Entrelaçados com a beleza das diversidades biológicas, a região é habitada por um povo que apresenta características peculiares de convívio com a dinâmica das águas e se autodenominam de povos pantaneiros. Estes povos revelam saberes locais e trazem as mais variadas contribuições culturais ? comidas, danças, histórias, lendas, sotaques e tantas outras expressões que não poderíamos citar todas por sua abrangência. Todas as comemorações festivas relacionam?se com as religiões e há santuários em quase todas as casas, algumas vezes no sincretismo religioso (SATO et al., 2001).

Nos seminários de mapeamento, algumas comunidades localizadas nos Pantanais de MT, foram citadas de acordo com os municípios, são elas:

• Em Santo Antônio do Leverger: Pedra Branca, Bocaininha, Morro Grande, Barreirinho, Vereda, Praia do Poço, Barranco Alto, Barra do Aricá, Porto de Fora, Quilombo e Mimoso. Algumas destas comunidades estão localizadas às margens do rio Cuiabá e mantém características de comunidades ribeirinhas. Dentre estes, há os que se identificam como mimoseanos, são moradores da Comunidade de Mimoso, com forte identidade pantaneira e com influência da vida do Marechal Rondon, terra onde ele nasceu e cresceu. A escola localizada no centro da comunidade recebe o nome da mãe de Rondon [Escola Santa Claudina] (SATO, 2002);

• Em Barão de Melgaço: Grande Chacororé, Praia do boi, Barranqueira, Capão, Estirão Comprido, Buritizal, Conchas, Poço General, Porto Brandão, Cuiabá Mirim, Vila Nova, Porto Emiliano, Porto São João, Croará, Santa Maria, Tamaraidaré, Piúva, Porto Quilombo, Mocambo, Pimenteira, Retiro São Bento, Colônia Santa Isabel, Capoeirinha, Lagoa do Algodão e São Pedro de Joselândia. O complexo de São Pedro de Joselândia está situado entre dois dos maiores rios formadores do Pantanal de Barão de Melgaço, o rio Cuiabá e o rio São Lourenço. Conta com as seguintes comunidades: a sede São Pedro, Mocambo, Pimenteira, Retiro São Bento, Colônia Santa Isabel, Capoeirinha e Lagoa do Algodão. Em seu entorno está localizada a RPPN SESC Pantanal;

• Em Nossa Senhora do Livramento: A comunidade de Pirizal está situada à margem direita do rio Cuiabá e a margem esquerda do rio Bento Gomes em uma região conhecida como Pantanal do Cuiabá ? Bento Gomes ? Paraguaizinho, sendo denominado localmente como Pantanal de Poconé;

• Em Poconé: Comunidade Campina II, Campina da Pedra, Mundo Novo, Piuval, Figueira, Imbé, Barreirinho, Sete Porcos, Zé Alves, Rodeio, Assentamento Furna I e Furna II, Minador, Assentamento Baia do Campo, Baia do Potreiro, Chafariz, Capão Verde, Bandeira, São Benedito, Varzearia, Carretão, Sangradouro, Maravilha e Morro Cortado. Algumas destas comunidades estão vinculadas a Cooperativa Mista dos Produtores Rurais de Poconé (COMPRUP) que, por meio do agroextrativismo e da agricultura familiar, vêm trabalhando com a coleta e beneficiamento do baru (Dipteryx alata), conhecido também como cumbaru. Além do baru, a COMPRUP trabalha com a produção de açúcar mascavo, rapadura de mamão, farinha de mandioca, pinga de alambique, banana frita e balinha de banana produzida e embalada artesanalmente;

• Em Cáceres: Comunidade das Onças, Senhora dos Milagres, Monjolo, Córrego Formiga, Vila Aparecida, Paiol, Flechas, Nova Flexas, Vinhático, Sadia, Mata Comprida, Ipê roxo, Laranjinha, Porto Limão, Cerradão, Corixinha, Laranjeira I e II, Padre Inácio, São Roque, São Cristóvão, Roça Velha, Trindade, Baia Velha, Assentamento Sapiquá, Rancho da Saudade, Nova Esperança, Jatobá, Bom Sucesso, Catira, São Francisco, Santa Luzia, Limoeiro, Beranqueira, Flor da Mata, Água Boa, Soteco, Santana, São Sebastião, Água Branca, Guanandy, Exu e Vila Aparecida. No trabalho com estas comunidades, devemos ressaltar a atuação do FLEC que é um importante articulador na defesa dos pantanais de Cáceres, especialmente, a atuação do Padre Salomão na militância socioambiental. Há mais de 10 anos, este grupo vem realizando, anualmente, importantes articulações na defesa do Rio Paraguai, alertando pela expansão da pecuária e da agricultura, a implantação de PCH, resistindo à implantação da hidrovia Paraná?Paraguai e, denunciando a precariedade na falta de saneamento básico que poluem os rios no planalto.

O modelo de desenvolvimento adotado tem proporcionado graves problemas ao ecossistema pantaneiro e seus povos, principalmente, os impactos e pressões relativos às atividades econômicas da agropecuária, a instalação de indústrias e as atividades mineradoras. O desmatamento na região, além de contribuir para uma maior erosão e pelo assoreamento dos rios, elimina a fonte de alimentação dos animais e das populações que ali habitam. Como se não bastasse, ainda temos o impacto causado pelo turismo desordenado, somados às consequentes atividades de pesca e caça predatória (DIEGUES, 2002).

A gestão ambiental dos territórios pantaneiros deve compreender a complexidade que envolve este ecossistema e, reconhecer a interdependência direta da planície com as áreas que estão no planalto. Neste caso em toda a BAP, pois, é impossível garantir a sustentabilidade do Pantanal sem a compreensão dos impactos socioambientais que estão em seu entorno. Como exemplo, a poluição hídrica causada pelos agrotóxicos, os esgotos sanitários e os industriais vindos do planalto revelam?se como problemas a ser solucionados.

Estas ameaças demandam a urgente necessidade de um conhecimento detalhado da ecologia e de esforços das políticas socioambientais para assegurar a preservação deste ecossistema e, de igual modo, as políticas públicas devem ser construídas visando à inclusão da defesa das diferentes culturas que, assegure o direito à manutenção dos hábitos e dos costumes das populações pantaneiras.

Referência: SILVA, Regina Aparecida da. Do invisível ao visível: o mapeamento dos grupos sociais do estado de Mato Grosso - Brasil. São Carlos: UFscar, 2011.
Disponível em: <https://onedrive.live.com/view.aspx?cid=17DC7D667214610D&resid=17DC7D667214610D%21343&app=WordPdf>.

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